quarta-feira, 18 de maio de 2011

REVISTA NACIONAL DE TECNOLOGIA ASSISTIVA


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EDIÇÃO: Abril - 2011 - 6ª edição - 23/04/2011

DIÁRIO DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS PARA APLICAÇÃO DE CONTEÚDOS TÉCNICOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Por Antonio Ricardo Penha e Christiane Maria Costa Carneiro Penha

Este trabalho aborda os três níveis da construção do Diário de Aprendizagem Instrumentalizado em Língua Brasileira de Sinais, destinado a servir como ferramenta de acessibilidade e de apoio diante das dificuldades de aprendizagem que têm os alunos com deficiências múltiplas postulantes ou matriculados nos cursos profissionalizantes ofertados pelas diversas instituições situadas na cidade do Rio de Janeiro e levando em consideração, também, a dificuldade que enfrenta o professor das disciplinas específicas dessa modalidade de ensino.

O primeiro nível de construção do Diário de Aprendizagem em Libras analisa o perfil do aluno candidato ao curso profissionalizante verificando o seu potencial em relação às escolhas das tecnologias que farão parte dos conteúdos da grade curricular e se a sua deficiência não se configura um impedimento para o cumprimento de normas de segurança do trabalho.

O segundo nível estabelece um contrato entre aluno e professor, buscando a construção de dinâmicas que apoiem a relação entre a preparação voltada ao ensino profissional e o estudo das disciplinas regulares destinadas a sua preparação para as séries mais avançadas da educação básica.

O terceiro nível prevê a visitação aos centros de formação profissional, convidando os docentes técnicos para tomarem conhecimento de que alunos com diagnóstico de deficiências múltiplas buscam ingresso no mercado de trabalho por intermédio da profissionalização nos cursos de tecnologia.

A preparação dos alunos para o trabalho no âmbito da escola obedece a orientações que fazem parte do conteúdo do Diário:

1)Os alunos são autônomos na escolha de suas futuras profissões, levando em consideração as normas relativas à segurança do trabalho;
2)O estudo não deverá comprometer a grade estabelecida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN;
3)O aluno deverá demonstrar aptidão para as tecnologias relativas ao curso oferecido, além de empenho e aplicação na aprendizagem de seus conteúdos.

As matrículas nas oficinas para a construção do Diário de Aprendizagem em Libras voltadas para o ensino profissionalizante tiveram uma adesão positiva, e serviu para mostrar a todos, na unidade educacional, e aos responsáveis dos alunos que a vocação para o trabalho já existia e era possível a sua alocação no espaço da escola.

O objetivo deste estudo é valorizar o trabalho de quem, por meio da preparação e do fornecimento de informações sobre o ensino profissionalizante destinada aos alunos especiais em idade própria, sem deixar de proporcionar certa individualização ao planejamento curricular, sendo isto uma estratégia para motivar o aluno a descobrir novas maneiras de envolver-se no trabalho em sala de aula. Eis um dos objetivos deste projeto.

Outro propósito do Diário de Aprendizagem é estabelecer uma política de portifólio que se constitua no conjunto de regras básicas para a coleta de dados a serem registrados como sinalizadores possíveis para facilitar a aprendizagem de conteúdos técnicos disponibilizados na educação profissional, possibilitando a definição dos planejamentos referentes à fase preparatória que acontece ainda na escola básica.

Tornar a aprendizagem uma atividade que desperte a curiosidade científica profissional, em que o próximo passo seja o de investigar o sistema de informações tecnológicas trata-se ainda de outra meta na construção do Diário de Aprendizagem em Libras.

De acordo com a pedagoga surda Mônica Astuto Lopes Martins (2009), professora do Instituto Helena Antipoff, a educação de surdos atualmente tem passado por mudanças e transformações de concepções filosóficas, principalmente com a criação de leis, decretos, portarias que garantiram aos surdos o direito de ir e vir na escola, no lazer, no trabalho, enfim, sua cidadania plena.

Em total apoio à visão da professora, que é o referencial teórico desse trabalho, a metodologia de aplicação do Diário de Aprendizagem segue uma lógica que prioriza as etapas da experiência social e educacional do aluno, validando a sua busca pelo conhecimento profissional, em caráter uniforme. Os relatos são analisados segundo as especificidades, os limites e as escolhas do aluno, quanto à sua inserção no mercado de trabalho.

A proposta inclusiva do Diário de Aprendizagem em Língua Brasileira de Sinais prevê a metodologia disponibilizada no currículo funcional para professores e responsáveis, instruindo-os quanto ao campo de ação dos alunos, permitindo o livre e pleno exercício das atividades educativas, oportunizando esse momento para direcioná-lo aos conteúdos dos PCN.

Nos exercícios do Diário, desenvolvidos individualmente, o aluno registra a sua memória e vocação para o trabalho em grupo, utilizando a escrita em braile, os sinais, outras e variadas ferramentas para a comunicação no ambiente de trabalho e para a realização de diversas atividades pedagógicas disciplinares em artes, português, matemática e conhecimentos gerais que possibilitem a construção da sua identidade profissional, melhorando a sua atenção e instruindo sobre as regras de segurança e uso de equipamentos.

RESULTADOS

Além da aluna com deficiência múltipla, todos os alunos da classe especial foram convidados a participarem de atividades que proporcionassem habilidades na construção do seu perfil profissional. Nesse contexto, os exercícios do Diário de Aprendizagem foram desenvolvidos buscando a total inclusão dos recursos humanos da escola para a promoção de atividades que oferecessem aos alunos uma prática de laboratório voltada para a significação do conhecimento técnico-profissionalizante. Foram inscritos oito alunos da classe de surdez e 11 da classe de deficientes intelectuais, que, após 180 dias de aplicação do Diário de Aprendizagem em Libras, foram considerados aptos para matrícula nos cursos profissionalizantes ofertados pelo Centro Integrado de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência – Ciad, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – Senart.

A proposta do Diário de Aprendizagem em Língua Brasileira de Sinais foi considerada positiva e relevante para a preparação e inclusão de alunos surdos nos cursos profissionalizantes, sendo indicada a sua extensão para alunos portadores de diferentes necessidades educacionais especiais, professores, profissionais ligados à educação e membros da comunidade como um instrumento de capacitação, doravante denominado Projeto Gestor de Qualificação para o Trabalho, priorizando o ensino de novas técnicas de conservação de alimentos, manutenção e higienização do ambiente de trabalho, motivação, trabalho e dinâmica de grupo.

CONCLUSÃO

Os dados utilizados neste trabalho são provenientes de duas fontes: uma com foco nos exercícios propostos pelos PCN, com aplicação da vivência do aluno no âmbito da escola e da sala de aula; e outra, baseada no relato das experiências de trabalho da aluna objeto da pesquisa, realizadas fora do muro da escola, privilegiando a vivência em família e na sua comunidade, efetuando a coleta de materiais com base em questionários nos quais as informações sobre suas necessidades de formação foram fornecidas segundo a compreensão da própria aluna sobre limites geográficos, sinais, ações inclusivas e integração social. A análise de noção temporal e desenvolvimento cognitivo da aluna na condição de sujeito de observação permitiu uma troca no quadro de mediadores, uma vez que perguntas e respostas alternavam-se e, por conseqüência, os registros apresentaram um resultado influenciado por essa interação entre educador e aluna, em que a compreensão da estrutura textual se fez durante todo o processo da sua construção.

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OS AUTORES:

Antonio Ricardo Penha é professor de metodologia da pesquisa científica, professor convidado do Laboratório de Projetos de Qualificação em Libras da Faculdade Gama e Souza, professor da disciplina de projetos na modalidade de educação profissional, teólogo pelo Seminário Maior Monte Sinai, doutorando em educação eclesiástica, mestre em filosofia cristã, especialista em psicanálise com acesso pela Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo - SPAG, acadêmico do curso de pedagogia do Instituto A Vez do Mestre da Universidade Cândido Mendes, acadêmico de teologia do Centro de Ensino Superior de Maringá – Cesumar, jornalista e articulista do Sul Fluminense e autor de “O adoecer psíquico da nação” (Litteris Editora, 2008). Contato: chpenhaprojetos.edu@correios.net.br.

Christiane Maria Costa Carneiro Penha é professora da classe de surdos e da classe de deficientes intelectuais do Instituto Helena Antipoff, da rede pública de ensino da cidade do Rio de Janeiro, além de docente das disciplinas de libras e psicossociologia do trabalho na Faculdade Gama e Souza. Tem formação de psicóloga pelo Centro Universitário Celso Lisboa (2000), é mestranda em psicologia, especialista em psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes (2001) e especialista em terapia de família pela Universidade Cândido Mendes (2002), com formação ainda em psicomotricidade sistêmica pelo CEC. Também especialista em psicossomática pela Universidade Gama Filho (2005), é pós-graduanda em libras e educação especial pelo Instituto Eficaz e acadêmica de pedagogia do Instituto A Vez do Mestre, da Universidade Cândido Mendes. Contato: lpq.libras@ymail.com.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARREL, M. Deficiências sensoriais e incapacidades físicas: guia do professor. Porto Alegre: Artmed, 2008.

GLAT, R. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 letras, 2008.
_________. A integração social dos portadores de deficiência: uma reflexão. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

NEY, A. Política Educacional: organização e estrutura da Educação Brasileira. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2008.

PENHA, C. O Professor Itinerante da Educação Especial. In.: Com a palavra os professores do Brasil: antologia literária. Rio de Janeiro: Litteris Ed., 2009.

PENHA, A. O adoecer psíquico da nação. In.: Com a palavra os professores do Brasil: antologia literária. Rio de Janeiro: Litteris Ed., 2009.

QUADROS, R. M. Alternativas de formações profissionais no campo da surdez. In.: Congresso Surdez e Universo Educacional, 14 a 16 de setembro de 2005. (Org.: Ines). Rio de Janeiro: Ines, Divisão de Estudos e Pesquisas, 2005.

ROTH, B. W. Experiências educacionais inclusivas. II: Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2008.

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