sábado, 27 de fevereiro de 2010

Espaço Educador

COMO AVALIAR DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS?

Michael George Costa Carneiro, Bacharel em História (UGF), Mestre em Ciências Pedagógicas
(Professor da Uerj / Cederj e da UniCarioca)


APRESENTAÇÃO

Esse artigo pretende analisar, em seus pontos centrais, o pensamento das competências diretamente ligado à relação didática / avaliação.

Atualmente percebemos quanto à questão da avaliação pouco avança nas unidades escolares, percebemos que em pleno século XXI avaliam-se os estudantes com perspectivas do século XX, criando assim uma ação inócua na relação ensino-aprendizagem / realidade.

Assim sendo, acreditamos que este artigo contribuirá a comunidade de ciência e pesquisa na área das Ciências Humanas, principalmente ligadas à temática da avaliação na área educacional, no sentido de passo-a-passo demonstrar paulatinamente de forma concisa este novo viés pedagógico na área de avaliação.

Palavras chave: competências – avaliação – habilidades

O QUE É AVALIAR NO SÉCULO XXI?

“Competência é a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”.
(Philippe Perrenoud)


Em pleno séc. XXI enúmeras instituições de educação básica em todo Brasil se caracterizam pela continuidade de uma avaliação focada em um sentido tradicionalístico e / ou tecnicista.

É notório entre os professores das diversas áreas de ensino que pouco ou nada se debate sobre novas formas de avaliação, e até mesmo para qual fim determinada linha de avaliação está “levando” os estudantes. Dificilmente encontram-se momentos na corrida vida dos professores para se debater sua própria realidade profissional e / ou pedagógica.

Raramente nos cursos de formação de professores são apresentadas aos licenciandos as diversas linhas existentes de educação, bem como de avaliação; salvo normalmente nos cursos de Pedagogia.

Normalmente os professores, desprovidos da reflexão sugerida acima, avaliam da mesma forma em que foram avaliados. De forma tradicional ou tecnicista.

Recentemente através de um pensador francês chamado Philippe Perrenoud emergiu no pensamento das ideias pedagógicas a chamada “avaliação por competências”. Uma nova forma de avaliação focada nas exigências do século XXI.

No mundo atual é perceptível que necessitamos de uma visão cada vez mais ampla da realidade; não é mais aceitável um ensino “departamentalizado” no qual os componentes curriculares não se comunicam, permanecem isolados como se fossem uma espécie de fortificação medieval, e ainda não se comunicam com a realidade contemporânea. Daí, muitas vezes ouvimos estudantes questionando o porquê de se aprender determinado tema de determinado programa curricular.

Atualmente é necessário abandonarmos um ensino atomista (especificado e isolado) para substituí-lo por uma educação holística, que se faça enúmeras conexões interdisciplinares e transdisciplinares entre os componentes curriculares e também com a realidade através de uma ação didática levantando questões contemporâneas. Fazendo, portanto que as temáticas trabalhadas em salas de aula sejam desenvolvidas fazendo sentido para a realidade na qual os estudantes estão inseridos.

É notório que no mundo contemporâneo convivemos com “vários mundos” e cada “mundo” deste insere-se no nosso cotidiano queiramos ou não. Vivemos em um mundo onde existem diversas esferas e necessitamos aprender a ler todas. Necessitamos saber ler no nosso mundo atual os “mundos”: político, social, econômico, multicultural, virtual, etc. Pois os mesmos convivem entre si e conosco diretamente; temos que além de aprender a lê-los, lê-los em movimento já que os mesmos se caracterizam por uma enorme velocidade de mudanças em um eterno processo dialético no qual os indivíduos devam expressar-se com clareza apropriando-se de conhecimento (e não só de informações) sobre as questões contemporâneas – que fazem sentido para este tempo (que não necessariamente são questões atuais).

Percebemos que atualmente enúmeros concursos públicos estão sendo formulados calcados no pensamento das competências, é o caso no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), não se verifica mais neste exame se o estudante consegue reproduzir as informações passadas (avaliação tradicional) e nem se o mesmo possui reflexos rápidos e eficientes (avaliação tecnicista). Verifica-se a eficácia que o estudante deve possuir para “sair” de determinadas situações-problema. Ainda neste artigo relataremos sobre as chamadas situações-problema.

No pensamento das competências é relevante que os professores apropriem-se de determinados conceitos, como os a seguir:

Informações => são dados
Conhecimento => é quando se utiliza as informações
Competência => é o conhecimento utilizado de forma eficaz

Assim podemos criar a equação:

Informações (utilizam-se) => Conhecimento (eficaz) => Competências

Para mensurarmos o que é competência quais critérios deveremos usar? Quais referências podemos utilizar para estabelecer uma competência?

No pensamento das competências pensa-se em três princípios gerais: saber fazer, saber ser e saber conhecer. Princípios que falaremos a seguir.


PRINCÍPIOS GERAIS DAS COMPETÊNCIAS

3.1 Habilidades: saber fazer

Enúmeras vezes, até mesmo em documentos oficiais, vemos a expressão “competências e habilidades” sendo utilizada para falar sobre o pensamento das competências. As habilidades são um dos princípios que compõem o que estamos chamando por competências, este destaque surge apenas para ilustrar o papel relevante do desenvolvimento das habilidades no contexto da condução para a formulação das competências.

Habilidade nada mais é que o saber fazer, construir habilidades que provenham o indivíduo de realizar de determinadas funções, apropriar-se de capacidades que darão ao ser funcionalidades em sua vida cotidiana tanto como estudante, como profissional e como cidadão. É a capacidade do indivíduo de realizar algo, como classificar, montar, calcular, ler, observar e interpretar.

Podemos pensar que as diversas unidades escolares trabalham este princípio das competências de forma adequada, pois normalmente as escolas procuram ensinar a ler, escrever, interpretar e calcular. Todavia, o pensamento das competências sugere que todos estes fazeres sejam trabalhados de forma contextualizada, demonstrando assim ao estudante a operacionalidade das informações, tranformando-as em conhecimento. Não devemos nos esquecer que a chamada Pedagogia Crítica (FREIRE, Paulo) defende que partamos da realidade do estudante para interagirmos o conhecimento.

Assim sendo, devemos nos utilizar desta ideia para didaticamente trabalharmos o desenvolvimento das habilidades, devemos esquecer uma didática tradicional na qual pede-se ano após ano o desenvolvimento de uma redação com o sugestivo título: “O que a rosa leva da primavera”. Com certeza uma redação totalmente descontextualizada com a realidade, por que não apresentarmos uma reportagem de jornal ou revista sobre uma temática contemporânea trabalharmos a mesma (explicarmos o fato ocorrido) e pedirmos uma redação sobre a mesma? Continuaremos a utilizar uma didática e uma avaliação marcadamente tradicionalista? Uma didática e uma avaliação descontextualizada com a realidade? Despertando assim, na mente de alguns estudantes, um distanciamento entre os “saberes da escola” e os “saberes da vida”.

Um professor de Matemática ao ensinar adição deve-se esquecer esquemas didáticos como:

Arme e efetue:
a) 30 + 15 =
b) 40 + 20 =
c) 10 + 12 =

Todavia deve-se procurar contextualizar as informações, fazê-las terem sentido, ligá-las com a contextos reais. Por exemplo, ao trabalhar adição o professor de Matemática deveria desenvolver os seguintes esquemas:

a) Você foi à padaria comprar pão (R$ 2), mortadela (R$ 5) e refrigerante (R$ 4). Quanto você irá gastar para realizar tal compra?

b) Recorte um anúncio de jornal ou revista de um grande Supermercado, cite três produtos do referido anúncio e seus respectivos preços. Qual seria o valor da compra dos três produtos escolhidos?

Necessitamos urgentemente de nos apropriarmos de novos conceitos na área de avaliação para tentarmos evitar realidades existentes em salas de aula, como aquele estudante que não consegue assimilar as operações básicas da aritmética na escola e ao mesmo tempo nos seus horários vagos ou aos fins de semana trabalha em algum tipo atividade comercial (normalmente informal) na qual possui destreza na realização de dar o troco aos fregueses.

3.2 Ética: saber ser

A moral é tudo aquilo que as instituições em sociedade nos dizem “o que é certo” e “o que é errado”. Portanto, o que aprendemos em termos de comportamento disciplinar na família, na escola e na religião são preceitos morais.

Assim sendo, a moral é algo extremamente variável (mesmo que no senso comum apregoa-se o contrário), a moral varia de cultura para cultura, região para região, de tempos em tempos. A moral precedida pela sociedade brasileira neste início de século XXI com certeza é bem diferente da defendida no início do século XX; a moral no mundo ocidental é diferente do mundo oriental, e até mesmo em um país de proporções continentais como o Brasil a moral em um grande centro urbano como o Rio de Janeiro e São Paulo deve ser diferente do apregoado em cidades do interior do próprio Brasil.

A partir da moral (aquilo que aprendemos como certo ou errado na sociedade em que vivemos) surge à ética, uma categoria filosófica que individualiza os valores do certo e do errado, que operacionaliza a conduta humana, basicamente baseada em dois valores: não se prejudicar e não prejudicar a outrem.

Didaticamente devemos trabalhar os valores éticos com os estudantes fazendo os mesmos refletirem sobre atitudes freqüentes em sociedade e até mesmo no dia a dia. Podemos citar neste caso, por exemplo, uma temática que recentemente está chegando às unidades escolares e já se começa a florir alguns debates de extrema relevância: o buylling (apelido), poderíamos inserir esta questão em nossas avaliações bimestrais, por que não refletir uma realidade tão próxima dos estudantes?

Devemos introduzir em nossas aulas debates sobre ações políticas, sobre acontecimentos econômicos, sobre fatos sociais e procurar buscar um fio condutor nestas temáticas orientado pelos valores éticos.

Um professor de História ao trabalhar a temática Ditadura Militar em aula poderia propor a seguinte questão em suas avaliações:

“O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou moção de apoio aos ministros da Justiça, Tarso Genro, e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, ambos favoráveis à revisão da Lei de Anistia e da punição de torturadores que atuaram no regime militar” (Jornal do Brasil, 09/11/2009). Responda:

Seguindo os parâmetros da ética, você concorda ou discorda do Ministro Tarso Genro no sentido de rever a Lei de Anistia para crimes de tortura? Por que?


Ao falarmos de ética não devemos esquecer os parâmetros legais, como os códigos (civil, penal, de trânsito, etc) e até mesmo a Constituição. Não devemos nos esquecer que as leis nada mais são do que preceitos instituídos em sociedade pelo Estado visando estabelecer normas / regras de convívio. Por isso, não devem ser descartadas ao trabalharmos este princípio das competências o saber ser.

O saber ser visa estimular o surgimento de atitudes nos indivíduos, proporcionar situações-problema nas quais o indivíduo saiba como agir...agir de com acordo com valores éticos e / ou seguindo preceitos instituídos em sociedade como as legislações.

Neste sentido, ao levantarmos questões contemporâneas poderemos inserir também a utilidade do códigos, como por exemplo:

A Constituição do Brasil promulgada em 1988 em seu Artigo 5º, inciso XLII, diz que: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Seguindo os parâmetros da ética, você concorda com a pena aplicada aqueles que possuem atitudes racistas? Por que?

Em pleno século XXI é inadmissível que as instituições de ensino não desenvolvam atividades didático-pedagógicas em seu cotidiano visando despertar / criar procedimentos atitudinais (éticos) nos estudantes.

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