Adriana Amaral do Espírito Santo,
Psicóloga, Mestre em Psicologia Social,
Autora de Capítulo no Livro:
Diferentes Contextos em Educação: Encontro e Adaptações
Quartica Editora -RJ
Resumo da Dissertação de Mestrado, Título: "Venha cuidar do corpo e da mente": interconexões possíveis entre mulheres, atividade física e Psicologia.
Defendida em julho de 2008 no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (PPGPS/UERJ). Orientadora: Prof. Dra. Ana Maria Jacó-Vilela
Notas iniciais
Este trabalho é um dos resultados de um estudo realizado nos últimos dois anos, tendo como foco as relações entre mulher, atividade física e Psicologia (Espírito Santo, 2008). Para a investigação, foi realizada uma pesquisa em uma academia só para mulheres localizada no centro do Rio de Janeiro, a qual freqüentei durante um mês, realizando observação participante, diário de campo e entrevistas semi-abertas.
Foram entrevistados um dos sócios daquela unidade (são três no total), que passarei a chamar de Francisco Alves; duas professoras e as duas estagiárias, que serão identificadas por nomes iniciados pela letra C; e oito alunas, de diferentes faixas etárias (21-30, 31-40, 41-50), escolhidas aleatoriamente, que serão identificadas por nomes iniciados pela letra R.
O objetivo principal deste capítulo não é analisar a Academia, especificamente, mas sim utilizá-la como referência para pensar a forma como a Psicologia permeia a prática de atividade física por mulheres de classe média no Rio de Janeiro.
Assim, inicialmente aborda alguns argumentos utilizados atualmente que associam aspectos considerados psicológicos à prática de exercícios físicos, o que justifica inclusive a criação de um modelo de academia exclusivo para mulheres. Em seguida, discorre sobre a noção de indivíduo moderno, que oferece as bases para se pensar o homem contemporâneo. Por fim, observa a forma como a psicologia aparece especificamente na Academia, sendo muito anterior à figura do psicólogo naquele contexto, vista aqui como um dos frutos do processo de difusão da Psicologia no Brasil em meados do século XX e que culmina, no último ponto abordado aqui, em uma ocupação deste espaço pelas terapias alternativas, como a ioga e as massagens corporais.
A Psicologia e a prática de atividade física
Sabemos que no século XX a Psicologia adquiriu status como ciência e profissão, atingindo as casas, instituições e mesmo o vocabulário cotidiano. Da mesma forma, a mulher, que por séculos ocupara posição de inferioridade na sociedade, obteve muitas conquistas, assumindo papel de destaque.
Nesse sentido, inúmeras tecnologias foram surgindo, e em grande parte incidindo sobre esta “nova mulher”, de corpo à mostra, preocupada com a estética, a saúde, o trabalho, enfim, diversos aspectos outrora impensáveis. O conjunto de serviços que buscam atender a esta demanda é chamado comumente de “indústria da beleza”, da qual as academias de ginástica, presentes no Rio de Janeiro desde a década de 1980, fazem parte.
Embora a Psicologia ainda não tenha se apropriado desta área como campo efetivo de atuação, fica claro que seu funcionamento abre amplo espaço para os psicólogos. Freqüentemente, a associação de características ditas psicológicas – como auto-estima mais elevada, boa qualidade de vida e saúde – à atividade física é empregada pelos praticantes de exercícios. Nesse sentido, quando há um “desvio”, o sentimento de culpa está presente, como no exemplo apresentado por Hansen e Vaz (2004), de que algumas academias intitulam a segunda-feira o “dia do peso na consciência”, em decorrência dos “pecados do fim-de-semana”.
As principais academias de ginástica do Rio de Janeiro vêm apontando para a importância da qualidade de vida, do bem-estar e do relaxamento mental como atrativos de seus serviços. O próprio modelo de academia para o público feminino surge daí, sendo voltado para um perfil de mulheres que não se sentem à vontade nas academias tradicionais, onde desfilariam com muito mais freqüência homens e mulheres com corpos perfeitos, que fazem com que as mais gordinhas ou com auto-estima mais baixa se sintam inferiorizadas.
Para essas mulheres, cria-se, então, um espaço privativo, com menos competitividade estética, onde poderão se mostrar sem constrangimentos, exercendo sua liberdade. Os conceitos de liberdade e privacidade justificam a necessidade do isolamento, onde a vergonha de falar sobre suas vidas íntimas e de mostrar seus corpos imperfeitos não existirá.
Ver completa em http://psicologaadriana.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário