sábado, 6 de fevereiro de 2010

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
Desafios e oportunidades na Cidade do Rio de Janeiro


Danielle Pereira de Souza,
Pedagoga formada pela Faculdade Gama e Souza



O educador que trabalha com educação de adultos é um educador que questionou as imagens do instrutor, do docente e do educador em si mesmo. René Barbier. (2001)






RESUMO


O objetivo da presente monografia foi abordar as possibilidades educacionais que os jovens e adultos tem na cidade do Rio de Janeiro para buscar o seu lugar na escola, apesar das críticas nada construtiva daqueles que os rotulam como analfabetos funcionais; exatamente por estarem fora da instituição destinada a prática do ensino formal.
Este trabalho foi realizado junto aos alunos do Programa de Educação de Jovens e Adultos de uma escola da rede municipal de Ensino, vítimas dessas críticas mas que reconhecem a sua culpabilidade de alguma forma e por isso continuam a estudar no meio de alunos com idade para serem seus filhos ou netos.

Palavras – chave: Educação – Cidadania - Possibilidades











ABSTRACT


The purpose of this monograph was addressing the educational opportunities that young people and adults is in Rio de Janeiro to seek its place in school, despite anything constructive criticism from those who label as functionally illiterate, just for being outside the institution for the practice of formal education.
This study was conducted among the students of the Program on Education for Youth and Adults of a school in the municipal system of education, victims of such criticism but acknowledged that his guilt in any way and therefore continue to study in the middle of pupils aged to be their children or grandchildren.

Words - words: Education - Citizenship - Possibilities






INTRODUÇÃO


O tema escolhido para esta monografia foi pensado para ser uma alternativa de estudos sobre as necessidades de pessoas carentes e desprovidas de escolarização, ainda que a expansão e a oferta de ensino básico sejam significativas, quer no contexto mundial, quer no contexto latino-americano ou brasileiro em particular, permanece alto o número de jovens e adultos analfabetos, situação que se amplia quando são considerados os analfabetos funcionais.
Infelizmente no Brasil, há cerca de 16 milhões de pessoas que se encontram sem acesso à alfabetização ou, simplesmente, são semi-analfabetos. Paulo freire afirma que pensávamos numa alfabetização direta e realmente ligada à democratização da cultura, que fosse uma introdução a esta democratização.
Estamos em plena era da informação e do conhecimento e muitos jovens e adultos não têm autonomia para realizar tarefas simples, mas essenciais à vida prática. Dependem dos outros para entender o sentido das placas, letreiros e cartazes, até reconhecem o nome dos objetos pelo seu logotipo, mas a maioria quando conseguem ler algo têm muita dificuldade.
Constatamos que a cada dia o mercado de trabalho está muito exigente, assim precisamos preparar essas pessoas para serem incluídas nesse mercado de trabalho e no mundo atual.
Para essa população, anteriormente excluída dos processos escolares, ler, escrever, realizar cálculos adequadamente, são habilidades essenciais tanto para o viver cotidiano, como para a manutenção das atividades que desenvolvem. Não garantir uma política educativa aos jovens e adultos reforça a situação de exclusão por eles vivenciada.
Solicita-se hoje de um trabalhador que dê conta de acompanhar as mudanças. Os trabalhadores, quaisquer que sejam as suas áreas de atuação, não estão livres de sofrer, constantemente, alterações no tipo de requerimentos que lhe são solicitados.
No cenário atual tanto a inserção no mercado de trabalho quanto à própria manutenção do emprego estão vinculadas, em larga medida, à escolaridade da população.
Segundo Paulo Freire “na verdade somente com muita paciência é possível tolerar, após as durezas de um dia de trabalho ou de um dia sem “trabalho”, lições que falam de ASA- “PEDRO VIU A ASA”. Lições que falam de Evas e de Uvas a homens que às vezes conhecem poucas Evas e nunca comeram Uvas . (Freire, Paulo – Educação como prática da liberdade, pág 113)

O crescimento dessas exigências coloca grande parcela da população frente ao risco da exclusão do mercado de trabalho, quer formal, quer informal.
É neste contexto que a educação vem fazendo o impossível torna-se realidade.
No mundo atual há uma deficiência educacional que atinge essa população de jovens e adultos, no que se refere ao acesso à cultura, à escrita, à informação e ás oportunidades de educação continuada.
Muitos governantes indagam o porquê da violência em nosso país: a resposta a essa pergunta está na falta de investimentos, principalmente, na educação de jovens e adultos que às vezes até tiveram uma oportunidade de estudar, mas não souberam aproveitá-lo da melhor forma possível. Por esse motivo estão querendo ser incluídos na sociedade outra vez.
“ plantei e colhi, não só no estudo como na família, já tenho dois filhos, uma família linda. Eu digo para eles: “não parem de estudar”, graças a Deus tive pessoas e profissionais que me ajudaram e que acreditaram em mim”. ( Jolcimar Fernandes, de 21 anos, morador do Morro da Cruz) – www.portoalegre.rs.gov.br

Por ser a educação de jovens e adultos uma modalidade de ensino, amparada e voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular na idade apropriada, ou que abandonaram a escola antes de terminar a educação básica, esses jovens tendem a procurar as instituições de ensino para completar seus estudos. Os que já têm essas habilidades desejam adquirir outros saberes - diploma, naturalmente, para que tenham chances no concorrido mercado de trabalho e sintam-se cidadãos responsáveis pelo destino do país.
Porém são pessoas que têm cultura própria. Sabe que o papel do docente é de fundamental importância no processo de reingresso do aluno ás turmas de EJA.
De acordo com FUCK (1994)
(...) Que a educação seja o processo através do qual o índividuo toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma. Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as consequências de sua escolha.
Mais isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende.
( FUCK, Michel. 1994. p. 14 -15).

O professor de EJA deve, também ser um professor especializado, capaz de identificar o potencial de cada aluno. O perfil do professor da EJA é muito importante para o sucesso da aprendizagem do aluno adulto que vê no seu professor como um modelo a seguir.
É preciso que a sociedade compreenda que alunos da EJA vivenciam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas dentre tantos outros. E que tais são vivenciadas tanto no cotidiano familiar como na vida em comunidade.
A educação de jovens e adultos é uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa, permitindo-lhe reescrever sua história de vida.
Sabe-se que educar é muito mais que reunir pessoas numa sala de aula e transmitir-lhe um conteúdo pronto. É papel do professor, especialmente do professor que atua na EJA, compreender melhor o aluno e sua realidade diária, pois o mesmo terá que lidar com o pessimismo e com a idéia do fracasso de seus alunos.
Discute-se que a qualidade do ensino está diretamente ligada à preparação do professor, que terá de se capacitar para estar atuando junto às turmas de educação de jovens, e adultos tal capacitação deve ser reconhecida e valorizada, uma vez que esta modalidade de ensino faz erradicar o analfabetismo e não o analfabeto. O objetivo maior é enfocar a importância que esses adultos e jovens exercem para o futuro do nosso país.

acompanha a educação como um todo e teve início com o trabalho de catequização e ensino das primeiras letras, realizado pelos jesuítas, durante o Brasil colônia.
Inicialmente a alfabetização de adultos para os colonizadores tinha objetivo nstrumentalizar a população, ensinando-a a ler e a escrever. Essa concepção foi adotada para que os colonos pudessem ler o catecismo e seguir as ordens e instruções da corte, os índios pudessem ser catequizados e, mais tarde, para os trabalhadores conseguissem cumprir as tarefas exigidas pelo Estado.
A expulsão dos Jesuítas, ocorrida no século XVIII, desorganizou o até então estabelecido. Novas iniciativas sobre ações dirigidas à educação de adultos somente ocorreram durante a época do império.
(...) Todas as pessoas da aldeia, crianças e adultas, eram doutrinadas na primeira parte da manhã, com aulas de catequese; depois, eram ensinados trabalhos agrícolas e alguns ofícios artesanais, enquanto “os mais hábeis” aprendiam a ler e escrever. (FREIRE, 2002, p.90)

Desde a Revolução de 1930, as mudanças políticas e econômicas permitiram o início da consolidação de um sistema público de educação elementar no país. A constituição de 1934 estabeleceu a criação de um Plano Nacional de educação, que indicava pela primeira vez a educação de adultos como dever do Estado incluindo em suas normas a oferta do ensino primário integral, gratuito e de freqüência obrigatória, extensiva para adultos.
A década de 40 foi marcada por algumas iniciativas políticas e pedagógicas que ampliaram a educação de jovens e adultos: a criação e a regulamentação do Fundo Nacional de Ensino Primário (FNEP); a criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP); O surgimento das primeiras obras dedicadas ao ensino supletivo; o lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), e outros. Este conjunto de iniciativas permitiu que a educação de adultos se firmasse como uma questão nacional. Ao mesmo tempo, os movimentos internacionais e organizações como a UNESCO, exercem influência positiva, reconhecendo os trabalhos que vinham sendo realizados no Brasil e estimulando a criação de programas nacionais de educação de jovens e adultos analfabetos. (MEC, 2001)

De acordo com VIEIRA (2004) em 1946, com a instalação do Estado Nacional Desenvolvimentista, houve um deslocamento do projeto político do Brasil, passando do modelo agrícola e rural para um modelo industrial e urbano, que gerou a necessidade de mão-de-obra qualificada e alfabetizada.
Em 1947, o MEC promoveu a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), essa foi a primeira grande iniciativa do governo pela erradicação do analfabetismo.
A campanha possuía duas estratégias: os planos de ação extensiva (alfabetização de grande parte da população) e os planos de ação em profundidade (capacitação profissional e atuação junto à comunidade). O objetivo não era apenas alfabetizar, mas aprofundar o trabalho educativo. Essa campanha – denominada CEAA atuou no meio rural e no meio urbano, possuindo objetivos diversos, mas diretrizes comuns. Dez mil salas de aulas para adultos foram criadas, mas as cartilhas de alfabetização eram baseadas no ensino para crianças.
O meio urbano visava a preparação de mão-de-obra alfabetizada para atender às necessidades do contexto urbano-industrial. A zona rural, visava fixar o homem no campo, além de integrar os imigrantes e seus descendentes nos Estados do Sul.
(...)
Apesar de, no fundo, ter o objetivo de aumentar a base eleitoral(o analfabeto não tinha direito ao voto) e elevar a produtividade da população, a CEAA contribui para a diminuição dos índices de analfabetismo no Brasil. (VIEIRA, 2004, p. 19-20)

Ainda em 1947, realizou-se o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos. E em 1949 foi realizado a I Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, realizada na Dinamarca.
Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), inicialmente ligada a Campanha Ncional de Educação de adolescentes e Adultos- CEAA. A CNER caracterizou-se, no período de 1956, como uma das instituições promotoras do processo de desenvolvimento de comunidades no meio rural brasileiro. Contava com um corpo de profissionais de áreas diversas como agronomia, veterinária, medicina, economia doméstica e assistência social entre outras, que realizavam trabalho de desenvolvimento comunitário junto à populações da zona rural.
Ainda nos anos 50, foi realizada a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que marcou uma nova etapa nas discussões sobre a educação de adultos. Seus organizadores compreendiam que a simples ação alfabetização era insuficiente, devendo dar prioridade à educação de crianças e jovens, aos quais a educação ainda poderia significar alteração em suas condições de vida.
A CNEA, em 1961, passou por dificuldades financeiras, diminuindo suas atividades. Em 1963 foi extinta, juntamente com as outras campanhas até então existentes.(VIEIRA, 2004, p.21-22).
Após os anos de 60 e dentro dos anos 70, período maior da ditadura militar surge o Mobral que foi concebido como um sistema que visava basicamente ao controle da população (sobretudo a rural). Segundo PAIVA (1970) “ No Brasil, até a segunda guerra mundial, a educação de adultos foi integrada à educação chamada popular, isto é, uma educação para o povo, que significava difusão do ensino elementar”
O ensino supletivo, implantado em 1971, foi um marco importante na história da educação de jovens e adultos do Brasil.
Durante o período Militar, educação de adultos adquiriu pela primeira vez na sua história um estatuto legal, sendo organizada em capítulo exclusivo da lei n° 5.692/71, intitulado ensino supletivo. O artigo desta legislação estabelecia com função do supletivo suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos que não a tenham conseguido ou concluído na idade própria. (PAIVA, 1970, p.81 -89)


Foram criados os Centros de Estudos Supletivos em todo o País, com a proposta de ser um modelo de educação do futuro, atendendo às necessidades de uma sociedade em processo de modernização. O objetivo era escolarizar um grande número de pessoas, mediante um baixo custo operacional, satisfazendo às necessidades de um mercado de trabalho competitivo, com exigência de escolarização cada vez maior.
O sistema não requeria freqüência obrigatória e a avaliação era feita em dois módulos: uma interna ao final do módulos e outra externa feita pelos sistemas educacionais. Contudo,a metodologia adotada gerou alguns problemas: o fato de os cursos não exigirem freqüência faz com que os índices de evasão sejam elevados, o atendimento individual impede a socialização do aluno com os demais colegas, a busca por uma formação rápida a fim de ingressar no mercado de trabalho, restringe o aluno à busca apenas do diploma sem a conscientização da necessidade do aprendizado.




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