sábado, 31 de dezembro de 2011
Mitos e verdades sobre a “Igreja Anglicana”.
(1) Há quem pense que “Igreja Anglicana” é uma denominação única. Isso não é verdade. Há dezenas de denominações anglicanas (ver em: http://www.anglicansonline.org/communion/nic.html). A Comunhão Anglicana não é uma denominação, mas, como o nome diz, uma comunhão. Há igrejas anglicanas (a maioria) que fazem parte dessa comunhão e outras que não fazem parte. Algumas delas estão ligadas ao movimento “continuante” e outras ao movimento “confessante”.
(2) Há quem pense que a igreja anglicana foi fundada pelo rei Henrique VIII, da Inglaterra, em 1534. Isso não é verdade. A igreja estava presente na Inglaterra desde os primórdios do cristianismo e florescia entre os povos celtas que ali haviam se estabelecido. No século VII (664 d.C.), no Sínodo de Whitby, a Igreja da Inglaterra subordinou-se ao papa e passou a ser a Igreja Romana na Inglaterra, situação que perdurou até Henrique VIII.
(3) Há quem pense que a igreja anglicana tornou-se “protestante” sob Henrique VIII. Isso não é verdade. Esse rei, que tinha o título de “Defensor da Fé”, outorgado pelo papa, apenas assumiu o governo da igreja; a fé e a prática religiosa continuaram as mesmas. Somente quando sua filha, Elizabeth I, assumiu o trono é que a igreja anglicana, de fato, assumiu a teologia protestante, mantendo, porém, a liturgia histórica, tradicional, consubstanciada no LOC – Livro de Oração Comum, cuja primeira edição data do Domingo de Pentecostes de 1549, sob os auspícios do do rei Eduardo VI, também protestante, e do arcebispo de Cantuária (Canterbury), Thomas Cranmer. Elizabeth instituiu a Via media, imaginando que a Igreja da Inglaterra poderia servir de ponte entre Roma e Genebra, ou seja, entre o catolicismo romano e o protestantismo.
(4) Há quem pense que a igreja anglicana é uma igreja católica (no sentido de “romana”). Isso não é verdade. Católica é toda igreja que está de acordo com o que é crido e praticado por todas as igrejas em todos os lugares e em todos os tempos. Quanto a este aspecto, a igreja anglicana é católica, pois não adota heresias em suas declarações de fé. Mas não é “romana”, não está sujeita ao papa, nem adota seus particulares dogmas e práticas: a transubstanciação dos elementos da eucaristia, oração pelos mortos, celibato obrigatório dos padres, veneração da virgem Maria e dos santos canonizados, imaculada conceição de Maria, assunção corporal de Maria ao céu, o sacrifício da missa (a missa anglicana é um culto), purgatório, infalibilidade do papa, obras meritórias para a salvação da alma, a tradição com o mesmo valor das Escrituras Sagradas, e outros.
(5) Há quem pense que as ordens anglicanas não são válidas, em virtude da bula Apostolicae Curae, de Leão XIII, que, em 1896, declarava: “as ordenações feitas segundo o rito anglicano são totalmente inválidas e inteiramente vãs”. Isso não é verdade. O papa só tem autoridade para reconhecer ou deixar de reconhecer atos e sacramentos de sua igreja, quer dizer, a romana. O que ocorre no âmbito do anglicanismo não é da competência nem da jurisdição do bispo de Roma. Houve quem não reconhecesse a validade do apostolado de Paulo. Sua resposta foi que seu apostolado tinha um selo: aqueles que o reconheciam (1 Co 9.2-3).
(6) Há quem pense que todos os anglicanos são fissurados pela “sucessão apóstólica”. Isso não é verdade. Há anglicanos evangelicais que não dão a mínima para a sucessão apostólica; eles entendem que essas listas de bispos desde os apóstolos são ficção (algumas delas são reconhecidamente forjadas) e que não há como comprovar documentalmente a veracidade de nenhuma delas.
(7) Há quem pense que todos os anglicanos são a favor da prática homossexual. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.
(8) Há quem pense que todas as igrejas anglicanas ordenam homossexuais ao ministério. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.
(9) Há quem pense que todos os anglicanos são contra a ordenação feminina ao ministério. Isso não é verdade. Há igrejas que ordenam diaconisas; outras que ordenam diaconisas e presbíteras; e outras que também ordenam episcopisas (bispas).
(10) Há quem pense todos os anglicanos são a favor da prática do aborto. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.
(11) Há quem pense que todos os anglicanos são a favor das relações extraconjugais quando os cônjuges concordam entre si com elas. Isso não é verdade. A maioria dos anglicanos é contra essa prática, tendo-a como antibíblica e abominável.
(12) Há quem pense que todos os anglicanos são contra o uso das vestes clericais, inclusive a mitra e o báculo pelos bispos. Isso não é verdade. A maioria das igrejas anglicanas adota as vestes clericais e seus bispos usam livremente a mitra, o báculo e outros adereços, como a cruz peitoral, o anel episcopal, estolas com as cores litúrgicas. Nas missas também pode haver velas, incenso, procissões, vênias.
(13) Há quem pense que todas as igrejas anglicanas são anglo-católicas, ou seja, têm práticas devocionais semelhantes à igreja romana, especialmente a veneração de Maria e a oração “Ave Maria”. Isso não é verdade. No anglicanismo, há os anglo-católicos, os evangelicais, os reformados, os carismáticos; há calvinistas, arminianos, liberais, tradicionalistas, fundamentalistas, tico-tico-no-fubá, maria-vai-com-as-outras. Muitos evangélicos não entendem como os anglicanos conseguem conviver (nem sempre) pacificamente com essas práticas e crenças conflitantes. Esse é o fenômeno da inclusividade, tolerância que é reflexo da Via media de Elizabeth I.
+Bispo José Moreno
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